terça-feira, 1 de novembro de 2016

Até para de pensar.

Hoje decidi correr até parar de pensar.
Acordei, senti o ar ocupar cada membrana em meu pulmão. 
Vesti a roupa que encontrei. 
Coloquei a nossa música. 
Comecei a caminhar e no primeiro cruzamento que fui atravessar um carro que vinha rápido me fez correr para não morrer. A agua de meu suor começou a sair.
Dai então iniciei a busca pelo meu objetivo: correr até parar de pensar. 
Passo por passo, fui me colocando onde deveria estar. Correndo e pensando passei a sentir, sentir que coisas não tão boas estavam acontecendo, mas coisas boas também aconteciam
Senti de leve um pé meu tocar o chão enquanto o outro voava em busca do próximo passo. Senti o impacto em uma das panturrilhas enquanto a outra sentia o ar ser dividido pela minha canela. Olhava em direção ao chão, atento as imperfeições da rua, esperto com os carros que vinham. No chão, eu achava folhas, galhos, insetos, embalagens.
Ainda sem parar de pensar, eu pensava, corria e sentia como e quando que cada folha havia caído e o motivo da existência de cada uma delas, sentia a função de tudo que estava pelo chão, podia ver o momento do nascimento das coisa pelas quais pisava, eu até podia sentir tudo isso. Continuava a soar. Algumas árvores baixas me fizeram desviar dos galhos e olhar pra o horizonte e ver, pessoas, pássaros, frutas e carros. Pude sentir e entender como cada pássaro voava, como cada pessoa vivia, o que algumas delas ouvia e como elas sofriam. Cada árvore que resistia ao vento que soprava forte, eu podia sentir o esforço de sua resistência, esforço esse que a fazia crescer, o que eu também podia sentir, a dor e o prazer do crescimento lento de cada árvore que cruzava. Corria e sentia meus joelhos sendo complacentes com meus calcanhares e absorvendo junto com eles o impacto da gravidade que me segurava ao chão, junto aos insetos, folhas, raizes das árvores, os carros. Todos nós unidos pela gravidade, a gravidade dos instantes, a gravidade da urgência das coisas, dos amores, das dores, das decisões, das perdas, da morte. Senti ali, naquele segundo, a gravidade de amar e me sentir mais pesando depois disso, senti a cartilagem dentre a junção de cada osso do meu corpo pressionada, e como a árvore,  percebi que não só ela mas eu também crescia a cada passo, a cada vento contra minha canela. Quase que podia sentir o sangue levar Oxigenio a cada órgão meu que era exigido enquanto eu suava, corria e pensava, mas eu queria parar de pensar. Percebi que parte de meu suor eram lagrimas, ou todo meu suor era, cada gota que deixei pelo caminho eram como folhas que as arvores deixaram pelo caminho. Mas eu deveria correr até parar de pensar, dai então percebi que as células, cada uma delas estavam lá, ou melhor, aqui, e lá estavam as moléculas, lá e aqui e em todo o lugar. Respirei cada uma delas, respirei as pessoas, as árvores, os insetos, o ar a luz a agua e voltei a pensar no amor e na sua gravidade que conecta células e as moléculas onde que elas estejam. Dai senti mais leve porque vi que árvore não pesa, árvore se sustenta anti a gravidade, e amor não grave, não é peso, amor se sustenta em moléculas em células em ossos, em músculo, em mãos, em pele, em beijos, em sorrisos e em amor. Vou correr até parar de pensar. As musicas já se repetiam a tempos e tocavam  a cada vez em outra harmonia. Mas eu deveria correr até parar de pensar. Então parei, eu já era tudo aquilo que estava perto de mim, e que o amor me trazia de distante, parei de correr e passei a pensar sem correr. A pensar, a sentir sem sofrer.

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