sábado, 25 de junho de 2016

Relatos sobre a mudança.

Relato 1.

Dai você está pronto, preparado, percebeu que está vivo e que pode viver o que decidir fazer porque não tem mais aquelas ideias e pensamentos que o prendiam a uma rotina de vida, que por anos fez sentido, mas agora já não cabe mais, não é mais gostoso, perdeu a razão. 

Antes foi bom, e me abriu espaço em vários lugares inclusive no coração de tantas e tantas pessoas. Ainda abro sorrisos em meu rosto por causa das lembranças e das historias que vivi. Mas passou, ficou, agora é o novo e estou disposto ao novo, comprometido com a mudança, com as mudanças que quero ser. 

Relato 2.

Depois de pronto nada acontece. Achei que fosse algo natural, eu não gosto mais do que fazia no passado, agora vou fazer coisas diferentes, decidido isso tudo aconteceria, as pessoas perceberiam, tudo ficaria mais leve e eu seria mais feliz. 

Nada disso aconteceu, tudo ficou igual, inclusive eu. O que mudou foi minha vontade de mudar, então tá, por onde começar? Mas espera, vale a pena começar? Pra que mudar? Mudar para quem? Mudar porquê? O que de fato mudaria? Quero ser mesmo tão diferente assim? E se no fim eu não gostar dessa mudança, até porque para quem eu queria mudar não me quer mesmo mudado. Não quer me dar nem a chance de ser diferente. 

Eu não sou capaz de mudar, e agora acho que não sou capaz de mudar nem a minha vontade de mudar. Mudar não existe, posso me transformar, mas mudar não existe. Não posso ir atrás da ilusão que tive de um dia ser diferente, aquilo nunca foi nem um sonho e não passou de uma ilusão que alguém alimentou em mim. 

Não vale a pena, o que vai ser se na vida as coisas voltam sempre a isso, já passei por isso uma vez, e vou passar por isso de novo, acordar viver trabalhar e dormir torcendo para sonhar com vida, pois não há nada além da mecânica que são as relações pessoais, de trabalho e do dia a dia. Isso tudo é igual, nuanças, tem, mas até as nuanças são semelhantes. Se eu ainda fosse um bom poeta eu poderia escrever sobre isso tudo, mas não sou, estou muito, mas muito distante disso. Agora mesmo não consigo nem escrever, pois tudo, absolutamente tudo está igual. Blasê, sem propósito! 
Mudar ... Mudar ... Mudar. Nada acontece tudo fica igual, o rosto das pessoas, são iguais, as musicas, cantam as mesmas frases sobre a vida, tristezas e alegrias. Os jovens são todos iguais, os velhos são iguais e velhos, o trabalho as contas são diferentes mas os problemas, iguais, os projetos pessoais para mudar o mundo vão mudar um mundo igual. Eu também sou igual. Eu sou igual não mudei e já me esgotei de tanto ser desse jeito e não me deram nem a chance de ser diferente, me condenam a ser igual, continuar a viver igual, não faz sentido. 

Talvez os lugares mais diferentes, agradáveis e gostosos, fossem próximo dos amigos e a cobertura de prédios bem altos. 

Relato 3.

Vida! Vida? No que existe vida? No que há vida? O que é vida? 
Achei que mudar me daria mais vida, mais vontade de conhecer essa nova vida. Mas não, não há vida mais, só o dia a dia, o igual, o que acontece, acontece, mas é dai? Respirar fundo continua sendo um alívio bastante promissor, entretanto tenho que respirar novamente logo depois e depois e depois e observar enquanto respiro os problemas continuarem e minha vontade de mudar não surtir nenhum efeito positivo em mim e nem em ninguém próximo a mim. Pois quem me ama, ama o eu antigo. 

Talvez isso seja a vida, deixar ela caminhar, respirar e observar as mesmas coisas acontecerem e vez em quando se surpreender com algo que vai acontecer novamente em breve até o final de minha vida. 

Vou deixar as mudanças para amanhã, a vida não me deixou alcança-las assim como não posso alcançar quem desejo. 
Hoje respirar no topo de prédios passou a ser mais atraente do que respirar ao lado de meus amigos.

Relato 4. 

Continuar, sorrir quando for sofrível ficar surpreso quando for previsível. E tudo, absolutamente tudo está cada vez mais e mais previsível, inclusive as tragédias do dia a dia ou "ZICA" ou "inferno astral". Consigo agora prevê-las como uma cartomante de rua sabe sobre seu futuro.

Esse é meu passatempo, ficar pensando no que fiz e no que está acontecendo, crio histórias na minha cabeça e imagino o que eu poderia ter feito diferente de tudo que fiz, principalmente com ela e também comigo. 

Fui negligente, mas tão negligente que negligenciei o compromisso que existia comigo mesmo e isso destruiu o que havia de mais precioso entre nós. E eu já vinha destruindo isso em mim aos poucos antes mesmo de conhecê-la. Enfim, preciso gastar o crédito que tenho na florista, ela disse já não quer minhas flores. Dia das mães está aí e dona Rute também, então ninguém mais merecedora do que ela, está na estação das tulipas e acho elas uma das mais lindas flores que existem, e como elas nascem no frio, pode ser faça nascer algo em mim. 

Relato 5 

Tulipas. Como são lindas as tulipas e delicadas, e fortes, e sensíveis, quase posso ver a fibra que compõe cada fração de suas folhas e suas pétalas. Posso sentir o cheiro doce do seu pólen, consigo sentir as moléculas que vibram, posso sentir a energia da vida que há nela, da vida que transformou os minerais que vivem na terra em cores, na cor verde das folhas e na cor vermelha escura de cada pétala, vejo como se deu o branco que abriga cada haste firme que segura a vida, o pólen, preciosa ferramenta que da continuação e perpetuação da vida. Uma transferência sintropica do que há de vida ali para a vida em outro lugar. Dona Rute chorou quando eu cheguei com o café da manhã e as tulipas, imaginei como deveria ser para ela ver sua criação, sua vida trazendo tanta vida assim em minhas mãos, vida em forma de flores, tulipas e carinho, e também chorei, pois, senti a vida que ela me deu dentro de mim e nela e nas tulipas, e no ar que respirávamos juntos abraçados, via em sua pele a mesma vida, as mesmas fibras e moléculas que existiam na flor e em mim, sentia vibrar cada próton, cada elétron da vida que havia ali, em mim, nela e nelas. Coloquei um beijo em sua testa, as flores sob a mesa, o café e o pão na cozinha. Foi como se eu tivesse sacado a resposta e sentisse que a vida e algo sublime, uma compreensão acima de mim e de todos nós, mas que pode ser transmitida com a história, afinal se há vida algo pode ser contato sobre aquilo, há história em tudo e se há história ou se pode haver história, há vida. Há vida em tudo, EM TUDO, até no que já se foi, um dia essas flores deixaram de existir, mas alguma abelha há de ter levado seu pólen e produzido o mel, que alimentou o homem que hoje vive, da vida da flor da abelha e do mel. E se a flor mudou, ou se transformou em homem porque eu não posso ser terra, se flor, ser árvore, ser abelha, ser homem, ser ela? Basta eu assumir o que fiz o que sou e definir o ponto de destino no que quero ser no lugar confortável que que estar pois onde esto não está mais, como já disse. Posso assumir tudo o que eu estiver disposto a ser, não vai ser fácil, não está sendo, mas é essa jornada são os passos lentos que me fará não só mudar mas ser a mudança, agir como diferente. Ser o mesmo, mas mudar. 

Relato 6. 

Sim, há história em tudo, ha vida em tudo, basta estar atento. Atento ao amor que vive nas coisas vivas inclusive as coisas que supostamente não estão vivas, objetos e todo o tipo de coisa, naquilo também há vida. Essa efetivamente foi a primeira coisa que mudei em mim, e ver esse processo como aconteceu me deixou tão feliz, tudo fez sentido, o caminho que percorri quando assumi o que não mais me dava prazer me fez acreditar que eu não mudaria, que nem valesse a pena é que efetivamente seria impossível ser diferente. 

Mas ficou claro que algo em minha essência mudou, ainda não sei exatamente o que, mas mudou e hoje ela se apresenta pra mim como um desejo, o desejo de mudar. Entendi que pra isso eu tenho que ter paciência e não posso ser ansioso, tenho que estar atento aos sinais e me deixar transpirar à aquilo que acontecer, se permitir ser parte da vida de tudo que há em meu redor, observar analisar com amor tudo que está acontecendo tudo que vai acontecer e algumas vezes o que já aconteceu. Seja a vida que você admira no próximo, seja o que há de diferente em vc, hoje só querer ser não basta, preciso ser.

Tudo que estou sentindo é muita coisa, tudo está mais difícil de entender mas está mais fácil de assimilar, de assumir a validade de tudo que vivi e que venceu. E ao estar aberto a ver a vida que vive em tudo, sinto que estou criando valores sobre minha própria vida e reforçando os que pretendo manter. 

Relato 7

Bom, sinto a necessidade de fazer algo novo, parece que todas essas mudanças me empurrou pra isso. Mas será que preciso mesmo começar algo novo? Pensando bem sobre isso decidi dar mais tempo para as coisas que estou fazendo e observar-las de onde vem o que estou fazendo e qual objetivo disso que estou fazendo. 
Isso me deu a possibilidade de fazer a mesma coisa mas de forma completamente novo, sentindo que muito das coisas que eu estava fazendo também passaram a ser diferentes. Vendo um pé de limão eu percebi que o melhor limão não é o irmão mais novo é o limão maduro, é um limão com o tempo ideal de maturação. Então, o significado de novo se tornou diferente pra mim. E tudo pode ser absolutamente novo independente do tempo que aquilo existe. Renovar algo é uma questão de observar-lo com calma para entender o que pode ser feito com aquilo. Hoje eu consigo ver que o amor é mais ou menos assim ele tem começo meio e fim, e uma capacidade de renascer e de se tornar novo fantástica e infinita.

Relato 8.

Qual a real necessidade de eu ter o que tenho? Muitas coisas são somente um pretexto para suprir a carência que sinto causada pelo medo de não ter nada que me vincule a esse mundo, a esse dia a dia ou a um estilo de vida. Eu já não tinha muitas coisas, passe então a ter menos ainda. 

Ter alguns compromissos também fazem parte dessa minha reflexão, é necessário eu tenho esses compromissos? Alguns sim outros não. Porque durante muito tempo eu não valorizei alguns encontros, tinha pouca disposição em conhecer a família de quem eu estava me envolvendo. E achava que estava tudo bem em eu ser um grande parceiro no dia-a-dia mas não me envolver com a família. Mas esse tipo de compromisso é fundamental e mais do que necessário para entender e estar mais próximo ainda de quem se ama. Essa é uma coisa que tenho que ter, dentre tantas outras que estou me livrando. Isso vai ser essencial para quando eu tiver que ser essencial.

Relato 9.

Amor e paixão. Hoje cheguei a uma resolução, não a uma conclusão, isso não, porque só concluirei algo sobre a vida quando eu estiver morto e ao menos agora prédios altos não me apetecem mais, quero viver! A resolução é a seguinte a paixão tem começo meio e fim. O amor tem começo, meio e fim, mas renasce a medida que for amor. A paixão acontece por tudo, uma coisa, um esporte, um carro, uma pessoa seja ela velha, nova, gorda, magra, não importa, a paixão vem e completa sua sina, começa e empolga continua e encoraja e dai com o passar dos dias aquilo que havia no começo já não existe mais, então se torna muitas vezes um habito para quem não aceita o fim da paixão. 

O amor, o amor ele não tem pudor e nem credo vem e entusiasma, continua e constrói, e dai algum tempo depois ele acaba. Mas quando menos se espera, e se é amor, ele renasce e você o reencontra novamente no ser amado, nas coisas maiores ou nas coisas mais miúdas do dia a dia. 

Sinto que estou construindo algo interessante dentro de mim junto a todas essas mudanças e resoluções. 

Relato 10.

O quanto eu me amo? Será que é o suficiente? Será que me amo ou sou somente apaixonado por mim? Sinto que devo me dedicar mais a mim, observar a mim mesmo e ser o amor de mim mesmo. Uma vez que está mais claro hoje o que é amor pra mim devo internalizar isso e viver esse amor. 

Entender o que posso dar a mim mesmo e o que não posso. O que posso sentir por mim mesmo e o que não posso. O que consigo suportar de mim mesmo e mesmo assim ainda me amar e ser compreensivo e amar. Isso talvez demore, mas não tenho pressa. Não quero o amor efêmero ou líquido como prefere Bauman, quero amor constante, intenso e por isso devo construir isso em mim. Me entender mais e deixar com que eu ame a mim mesmo para poder amar sério a quem amo. 

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